segunda-feira, 31 de maio de 2010

pose à posteridade

Parceria certeira: Up Turn & Orquidário LuVan (Círculo Orquidófilo Maricaense)

nem tão santo assim

fui batizado para não morrer pagão
e na pia batismal
pasmem!
meu primeiro banho desnudo
portanto nem tão santo assim
um pouco adão
dormi entre oratórios
guardei promessas em relicários
absorvi mandamentos
a la maria vai com as putas
em puras transgressões
portanto nem tão santa assim
deambulei por escusas esquinas
e casas de conveniências
em procissão sem profissão
professando rosários de contas negras
portanto nem tão santo assim
agora de frente à verdade
enfrento de joelhos absolvições
contrito e convertido
rezo humanidades
em romarias e peregrinações
sem fim
mas com um olho sim e outro não
afinal nem tão santo assim
ainda...

in CONVERSA PROIBIDA, Sérgio Gerônimo & Flávio Dórea, OFICINA Editores, Rio/RJ,2009

QUEM SOU EU?

aceito ser qualquer coisa
mas presta atenção em mim

eles dizem que sou mulher
elas dizem homem
talvez pela minha sensibilidade
de escrever versos com batom
ou pela força bruta incapaz
de quebrar o espelho
a pauta de um poema
mentirosos
vivem entre a raiva e o medo
saber que me olham
sem o aroma do sexo
é ignorar minha carícia mais quente
pois aceito ser qualquer coisa
mas presta atenção em mim
qual dentre os homens
assume em toda grandeza
seu lado anima?

quem é a mulher
que ao abrir suas vontades
se despe de seus limites incontroláveis
o seu lado animus?
proponho então uma balança
dois pesos, duas medidas um ato
atado a uma engrenagem cultural
ninguém é feliz sozinho
todos os meus lados
são mãos deslizantes lentas e leves,
pele macia
o olhar é encantamento
descobrindo e desvendando no outro
momentos de estimulação total
a troca úmida de sensações
seguras e inseguras
situação bastante comum
a fome insaciável do toque
afasto qualquer sentimento
grito por sua atenção
em viris 11 minutos e depois
serei ele
ela... quem você quiser...

in CONVERSA PROIBIDA, Sérgio Gerônimo & Flávio Dórea, OFICINA Editores, Rio/RJ,2009

domingo, 9 de maio de 2010

aos deuses momentâneos

AS TIME GOES BY

Meu bem,
Me chama de Humphrey Bogart
Que eu te conto Casablanca
Me tira esse sobretudo;
Sobretudo, conta tudo
Que eu te dou uma rosa branca.
Meu bem,
Me chama de Humphrey Bogart...
Te dou carona em meu carro
Chevrolet — que sou bacana;
Te levo, meu bem, pra cama,
Fumamos nossa bagana;
Te provo que sou sacana...
Te faço toda a denguice:
Te dispo que nem a Ingrid,
Te dou filhos de montão
Só pra te ver sufocar...
Mas me chama de Humphrey Bogart!
Faço chover colorido
Como num bom musical,
Te chamo de Lauren Bacall!
Te danço, te canto, te mostro,
Entre as pernas, meu bom astral...
Te deixo pro enxoval
Meu chapéu preto de gangster.

Tanussi Cardoso